terça-feira, 14 de junho de 2011

Vamos Apostar na Agricultura Portuguesa? A ver vamos!

Morangos em Cultura Sem Solo no CEHPP


Depois de largos anos de abandono e desprezo pelo sector primário o Sr. Presidente da Republica, secundado por inúmeros comentadores da nossa “praça”, especialistas em generalidades mais ou menos obvias, defendem agora o regresso à terra como remédio salvador para a critica situação em que Portugal se encontra

Neste contexto será bom lembrar, aquando da entrada na CEE, que as prioridades dos governos de então foram as grandes obras públicas, auto-estradas, piscinas, centros de congressos, muitas rotundas etc. etc.

Nessa fase a agricultura e as pescas, parentes pobres desse Portugal em “acelerado desenvolvimento”, foram praticamente esquecidas e os agricultores e pescadores abandonados ao seu destino.

Foi a fase em que o governo da altura, era então 1º Ministro o hoje Presidente Aníbal Cavaco Silva, a troco de alguns milhares (poucos) de escudos “escancarou” a porta à entrada antecipada de produtos vindos de países melhor organizados, com agricultura e pescas bem mais competitivas e dominantes nos mercados da distribuição.

Assistiu-se também nessa altura, e nos anos subsequentes, a um incremento de politicas conducentes a uma agricultura em que se paga para não produzir e, nas pescas, fomentou-se o abate da frota, sendo as poucas licenças restantes vendidas, em muitos casos, a empresários da vizinha Espanha.

Pouco depois foram também escancaradas as portas aos grandes grupos de distribuição, cujos expoentes máximos Sonae / Continente e Jerónimo Martins / Pingo Doce que, segundo dados recentes, já dominam mais de 85 % da distribuição de produtos agrícolas, esmagando de forma quase criminosa a margem dos agricultores.

Alguns agricultores, associados a organizações de produtores, com maior poder negocial, ainda que com muita dificuldade, vão resistindo, não se sabe como e por quanto tempo. Os outros, a grande maioria, que dependia do pequeno comércio de bairro, bem como dos pequenos intermediários que asseguravam o escoamento de muitos produtos, ficaram sem alternativas uma vez que as condições exigidas, bem como os preços propostos pela grande distribuição são insuficientes para garantir o pagamento das despesas e assegurar uma vida digna. Nestas condições muitos, não por vontade própria mas porque a isso são obrigados, acabam por abandonar a actividade deixando os campos incultos, improdutivos.

Igualmente nos últimos anos, com especial incidência no consulado do Sr. Ministro da Agricultura Dr. Jaime Silva, os serviços do Ministério foram brindados com campanhas miseráveis, tipo - “cinco agricultores por cada técnico”- e outras semelhantes propicias ao desmantelamento do seu corpo técnico. Nessa altura as Direcções Regionais de Agricultura perderam muitas competências, nomeadamente nas áreas da experimentação / investigação e foram “sangradas” em mais de 30 % dos seus funcionários.

Hoje em dia são poucos os jovens que investem no sector agrícola, há menos agricultores, a maioria tem mais de 65 anos e nos últimos anos perdeu-se muito do conhecimento adquirido, que era passado de geração em geração. Por outro lado, na última década, poucos foram os técnicos que ingressaram no Ministério da Agricultura facto que impossibilitou, também aqui, a transmissão de conhecimentos ou a aquisição de novas competências numa área em acelerada mutação com o agravante de os poucos técnicos ainda com funções no apoio aos agricultores, por desmotivação ou limite de idade terem passado à situação de reforma.

Mesmo assim quero acreditar que o próximo governo vai dar mais apoio à agricultura e às pescas  propiciando o seu desenvolvimento em prol da economia do país.

Mas, para isso não chegam palavras e boas intenções, serão necessários apoios e incentivos que possibilitem a este sector uma vida digna.

Ainda que, como acima se referiu, os serviços técnicos do Ministério tenham hoje menos condições para assessorar os agricultores, restam felizmente alguns e as associações existentes, na sua maioria, dispõem elas próprias de um corpo técnico, com jovens licenciados habilitados para o apoio julgado necessário. Assim sendo não será por falta de conhecimento que o problema se porá.

A nosso ver o grande e maior obstáculo poderá mais uma vez surgir ao nível da comercialização dos produtos.
Nestas condições, desde logo, o preço de venda dos produtos terá que cobrir os custos de produção.
As organizações existentes, na sua maioria criadas com apoios do estado, deverão igualmente ser estimuladas a criar condições para a entrada de novos associados.
Finalmente, para terminar que a exposição já vai longa, será fundamental que exista uma verdadeira autoridade da concorrência que zele pelo cumprimento das regras de mercado, protegendo produtores e consumidores, de modo a evitar que os grupos de distribuição dominantes no mercado imponham a seu belo prazer as condições leoninas que nos últimos tempos vêem asfixiando e depois aniquilando grande parte do sector produtivo.

Sem comentários:

Enviar um comentário