quarta-feira, 11 de julho de 2012

A última viagem de taxi

Todos os dias recebemos por E-mail variadíssimas histórias, umas dando conta de factos verídicos outras pura ficção sem qualquer interesse.

Esta, “A última viagem de táxi”, achei adorável. É uma história contada com muita ternura, puxando mesmo ao sentimento, mas de grande beleza, que merece a pena ser lida.


»»» Houve um tempo em que eu ganhava a vida como motorista de táxi. Naturalmente, embarcavam passageiros anônimos os quais, às vezes, contavam-me episódios das suas vidas, suas alegrias e suas tristezas. Encontrei pessoas que me surpreenderam. Mas, nenhuma como aquela da noite de 25 para 26 de julho do último ano em que trabalhei na praça!

Tinha recebido, já tarde na noite, uma chamada vinda de um pequeno prédio de tijolos, numa rua tranquila do subúrbio de Belo Horizonte, capital das Minas Gerais. Quando cheguei ouvia cães a ladrar ao longe. O prédio estava escuro, com exceção de uma única lâmpada acesa numa janela.

Nestas circunstâncias, outros teriam buzinado duas ou três vezes, esperariam só um pouco e, então, iriam embora. Mas, eu sabia que muitas pessoas dependiam dos táxis como único meio de transporte a esta hora. A não ser, portanto, que a situação fosse claramente perigosa, eu sempre esperava.

Este passageiro pode ser alguém que necessita de ajuda, pensei. Assim, fui até a porta e bati. Um minutinho depois respondeu uma voz débil e idosa. Ouvi alguma coisa ser arrastada pelo chão. Depois de uma pausa longa, a porta abriu-se. Vi-me então diante de uma senhora bem idosa, pequenina e de frágil aparência!

Usava um vestido estampado e um chapéu bizarro daqueles usados pelas senhoras idosas nos filmes da década de 40, e equilibrava-se numa bengala, enquanto segurava com dificuldade uma pequena mala... Dava para ver que a mobília estava toda coberta com lençóis. Não havia relógios, roupas ou adornos sobre os móveis. Num canto jazia uma caixa aberta com fotografias e vidros.

A velha senhora, esboçando um tímido sorriso, de quem tinha já perdido todos os dentes, pediu-me: “ O senhor poderia ajudar-me com a mala?” Eu peguei a mala e ajudei-a caminhar lentamente até o carro. E enquanto se acomodava ela agradeceu-me. Não é nada, respondi, “apenas procuro tratar meus passageiros do jeito que gostaria que tratassem minha velha mãe”...

Oh!, você é um bom rapaz! Quando embarcamos, deu-me um endereço e pediu: o senhor poderia ir pelo centro da cidade? Este não é o trajeto mais curto, alertei-a prontamente. Eu não me importo. Não estou com pressa. Meu destino é o último! O lar dos idosos.

Surpreso, eu olhei pelo retrovisor. Os olhos da velhinha brilhavam marejados. Eu não tenho mais família e o médico disse-me que tenho muito pouco tempo. Disfarçadamente, desliguei o taxímetro e perguntei: o caminho que a senhora deseja que eu tome?

Nas horas seguintes nós dirigimos por toda a cidade. Ela mostrou-me o edifício na Praça em que tinha, em certa ocasião, trabalhado como ascensorista. Passamos pelas cercanias em que ela e o esposo tinham vivido como recém-casados. E também pela Igrejinha de São Francisco, na Pampulha, onde comemoraram as Bodas de Ouro!

Ela pediu-me que passasse em frente a uma loja de móveis na região da Praça da Liberdade, que tinha sido um grande salão de dança que ela frequentara quando mocinha! De vez em quando, pedia-me para dirigir vagarosamente em frente a um edifício ou esquina. Era quando ficava então com os olhos fixos na escuridão, sem dizer nada... e olhava. Olhava e suspirava...

E assim rodamos a noite inteira... Quando o primeiro raio de sol surgiu no horizonte, ela disse de repente: Estou cansada... E pronta! Vamos agora! Seguimos, então, em silêncio, para o endereço que ela tinha-me dado. Chegamos a um prédio rodeado de árvores, uma pequena casa de repouso.

Dois empregados caminharam até táxi, assim que paramos. Eram amáveis e atentos e logo se aproximaram da velha senhora, a quem pareciam esperar. Eu abri o porta-bagagens do carro e levei a pequena mala até a porta. A senhora, já sentada em uma cadeira de rodas, perguntou-me então pelo custo da corrida.

Quanto lhe devo? Perguntou-me pegando a bolsa. Nada! Disse-lhe. “Você tem que ganhar a vida, meu jovem” retorquiu. Há outros passageiros, respondi. Quase sem pensar, curvei-me e dei-lhe um abraço. Ela me envolveu comovidamente e devolveu-me com um beijo afetuoso e repleto da mais pura e genuína gratidão! E disse: Você deu a esta velhinha bons momentos de alegria, como não tinha há tanto tempo. Só Deus sabe o quanto você fez por mim! Obrigada, MEU AMIGO! Mil vezes obrigada! Apertei a sua mão uma última vez e caminhei no lusco-fusco da alvorada sem olhar para trás.

Atrás de mim uma porta foi fechada. Era o som do término de uma vida. Naquele dia não apanhei mais passageiros. Guiei sem rumo, perdido nos meus pensamentos. Mal podia falar. Dois dias depois, tomei coragem e voltei ao lar para ver como estava a minha mais nova amiga. Disseram-me então, que na noite anterior adormecera para sempre, em paz e feliz.

E fiquei a pensar, e se a velhinha tivesse apanhado um motorista mal-educado… ou, então, algum que estivesse ansioso para terminar o seu turno...? Óh, Meu Deus! E se eu tivesse recusado a corrida? Ou se tivesse buzinado uma vez e ido embora? Ao pensar nisto compreendi que essa viagem era uma das coisas mais importantes que eu tinha feito na minha vida!

Em geral condicionamo-nos ao pensar que as nossas vidas giram em torno de grandes momentos. Todavia, os “verdadeiros grandes momentos” frequentemente apanham-nos desprevenidos e ficam guardados em recantos que quase toda a gente considera sem importância ««.
 
(Recebido por Email)