sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Grécia versus Alemanha


Muito se tem dito e escrito sobre o descontrolo orçamental dos países do Sul da Europa, nomeadamente as causas que levaram a défices excessivos dos respectivos países.
Ao que nos é dado observar, parece certo que se gastou o que não se devia ter gasto, e que isso conduziu a situações insustentáveis, de que resultaram as consequências que hoje vamos observando não só na Grécia mas também em países como Espanha e a França, onde os partidos fora do sistema tradicional, quer à esquerda quer à direita, vão ganhando peso e poder de actuação.
Sendo certo que quem pede emprestado deve pagar, não é menos certo que quem empresta deveria também evitar a “ ganância do lucro fácil a qualquer preço” e proteger-se não emprestando sem garantias.
Infelizmente nem sempre se tomaram as precauções necessárias e os credores vêm agora, protestar e exigir que os devedores honrem os compromissos assumidos numa altura em que estes não têm condições para tal.
Por outro lado quem beneficiou desses gastos foi a minoria privilegiada, representada por bancos e outras grandes empresas, as quais, tendo acesso aos corredores do poder subornaram, roubaram e negociaram em seu favor contratos ruinosos para os países endividados.
Porém, agora, na hora de pagar as dividas, são esses mesmos interesses que se posicionam na primeira linha no sentido de receber o que, na sua óptica, lhes é devido.
Tomemos como exemplo a bem organizada e trabalhadora Nação Alemã vr. Nação Grega.
Recuando no tempo, a Alemanha nazi destruiu-se a si mesma e arrasou meia Europa.
Após o conflito terminado, para assegurar que a economia alemã ocidental é reactivada e constitui um elemento estável e central no bloco atlântico, os Aliados credores, com os Estados Unidos à cabeça, fazem concessões muito importantes às autoridades e às empresas alemãs endividadas, que vão bem para além de uma redução de dívida. Ao que consta os gregos, com a nação destruída pela guerra e fazendo parte dos aliados credores, aceitaram esse perdão de divida. Em condições completamente diferentes, dado que por enquanto não ocorreram ainda conflitos armados, a Grécia passa agora por situações aflitivas não dispondo de recursos para honrar as suas dividas, mas a poderosa e rica Alemanha insiste em que os devedores, qual pecadores devem espiar a culpa e pagar o que devem, custe o que custar.
Por outro lado será que as empresas / governo alemão ao venderam à Grécia, os seus “valiosos produtos made in germany ” onde se incluíam carros topo de gama, submarinos e outro equipamento militar desconheciam a situação financeira da Grécia?

Infelizmente para a Grécia, para a Europa e para a própria Alemanha não há milagres. Quem foi espoliado de quase tudo pelas suas denominadas “elites” como aconteceu no caso presente, ainda que queira, não tem como pagar.
Nestas condições o correcto seria evitar humilhar o povo grego e, tal como propõe o novo governo, proporcionar condições para um crescimento sustentado, criando postos de trabalho e riqueza que permita ao povo grego não só pagar a divida como viver com dignidade.
Não é este, como atrás referimos, o entendimento alemão pelo que nas próximas semanas muito se irá ainda discutir no sentido de chegar a um acordo justo não só para a Grécia como para a Europa. Esperemos que o bom senso, de ambas as partes, prevaleça sob risco de recuarmos no tempo, para épocas que julgávamos esquecidas, o que inevitavelmente teria consequências nefastas não só pra a Grécia mas também para toda a União Europeia, Alemanha incluída.