quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Mail de uma louca com Pepsi

Numa altura em que a polémica campanha continua a dar que falar, João Pinto Costa traz-nos excepcionalmente esta semana uma segunda crónica de Mail de uma louca. Com a Pepsi, claro.

De: Mariazinha
Para: Pepsico
Assunto: Pepsi

Boa tarde,
chamo-me Mariazinha e contacto-vos por e-mail após ter sido aconselhada a fazê-lo com a garantia que não me deixariam sem resposta.
Acontece que tenho um estabelecimento comercial, no centro de Lisboa e gostaria de saber qual o procedimento que devo tomar para que venham levantar imediatamente todas as latas de pepsi que vos tinha adquirido para comercializar.
Espero que não me façam vodoo por assim o desejar, nem que desejem que eu seja atropelada por um comboio mas não estou mesmo interessada em promover uma marca que desejou o mal de Portugal.
Apesar de serem como são espero que tenham a hombridade de pelo menos me responder com alguma celeridade para que eu resolva este assunto sem meter outros estabelecimentos comerciais e meios de comunicação "ao barulho".
Além de deixar de trabalhar com traidores, deixarei de ter de perguntar aos meus clientes a questão que mais vezes faço por dia: "Pode ser pepsi?".
Certamente que na Suécia e na Argentina as vossas vendas compensarão o facto de eu e outros desistirmos de vender o vosso produto.
Termino dando-vos os parabéns pela vossa parceria com o Leonel Messi. É sempre positivo quando os segundos melhores se juntam.
Pedia que se alguém vier levantar as bebidas não use um vestuário com referencia à pepsico pois não quero ser mal-educada nem desagradável e muito menos que o meu estabelecimento seja associado à vossa marca.

Obrigada,
Mariazinha

Sempre CR7.

De: Pepsico
Para: Mariazinha
Assunto: Pepsi

Boa tarde,

Acusamos a recepção do seu email que mereceu toda a nossa atenção.
Por forma atender ao seu pedido, necessitamos dos dados do seu estabelecimento comercial, tais como:
- Nº de Cliente
- Denominação Social
- NIF
- Morada
- Outros contactos
Na expectativa das suas prezadas noticias aceite os nossos melhores cumprimentos,

Gestão de Clientes

De: Mariazinha
Para: Pepsico
Assunto: Pepsi

Boa tarde,
após dizer à minha filha que vos tinha enviado um e-mail ela disse-me que a pepsi já tinha pedido desculpa pelo seu inaceitável comportamento.
Gostava de vos perguntar se foi um pedido sincero ou se foi apenas para Português ver.+Existindo esse pedido o caso muda obviamente de figura.

Com os melhores cumprimentos,
Mariazinha

P.S. Seria possível enviar-me alguns produtos como forma de "mais facilmente" eu esquecer este assunto?

SEM RESPOSTA
João Pinto Costa

(Retirado da Revista Sábado)

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Aula de Direito*

 
Numa manhã, quando o nosso novo professor de "Introdução ao Direito" entrou na sala, a primeira coisa que fez foi perguntar o nome a um aluno que estava sentado na primeira fila:
- Como te chamas?
- Chamo-me Juan, senhor Doutor.
- Saia de minha aula e não quero que voltes nunca mais! - Gritou o desagradável professor. Juan estava desconcertado. Quando voltou a si, levantou-se rapidamente, recolheu as suas coisas e saiu da sala. Todos estávamos assustados e indignados. Porém, ninguém disse nada.
- Agora sim! - E perguntou o professor - para que servem as leis? Seguíamos assustados. Porém, pouco a pouco, começamos a responder à sua pergunta:
- Para que haja uma ordem na sociedade.
- Não! - Respondia o professor
.- Para cumpri-las.- Não!
- Para que as pessoas erradas paguem pelos seus catos.- Não!
- Será que ninguém sabe responder a esta pergunta?!
- Para que haja justiça - falou timidamente uma aluna.
- Até que enfim! É isso mesmo... Para que haja justiça.
E agora, para que serve a justiça?
Todos começávamos a ficar incomodados pela atitude tão grosseira.
Porém, procurávamos responder:
- Para salvaguardar os direitos humanos...
- Bem, que mais? - Perguntava o professor.
- Para distinguir o certo do errado...
Para premiar quem faz o bem...
- Ok, não está mal. Porém, respondam a esta outra pergunta: agi corretamente ao expulsar Juan da sala de aula? Todos ficamos calados, ninguém se atrevia a responder.
- Quero uma resposta decidida e unânime!
- Não! - Respondemos todos a uma só voz.
- Poderia dizer-se que cometi uma injustiça?
- Sim!- E por que é que ninguém fez nada a esse respeito? Para que queremos leis e regras se não dispomos da vontade necessária para praticá-las? Cada um de vós tem a obrigação de reclamar quando presenciar uma injustiça.
Todos. - Não voltem a ficar calados. Nunca mais! Vá buscar o Juan - disse, olhando-me fixamente. Naquele dia recebi a lição mais prática no meu curso de Direito. Quando não defendemos os nossos direitos perdemos a dignidade e a dignidade não se negoceia.

*"O PREÇO A* *PAGAR PELA TUA NÃO PARTICIPAÇÃO NA POLÍTICA É* 
* SERES GOVERNADO POR QUEM É INFERIOR**".- PLATÃO (C. 428 - 347 A.C.) *

(recebido por Email)