Raul Brandão escreve a propósito
do biuco no seu livro "Os Pescadores", em 1922
"Ainda há pouco tempo todas (as mulheres de Olhão)
usavam cloques e bioco. O capote, muito amplo e atirado com elegância sobre a
cabeça, tornava-as impenetráveis.
É um trajo misterioso e atraente. Quando saem, de negro
envoltas nos biocos, parecem fantasmas. Passam, olham-nos e não as vemos. Mas o
lume do olhar, mais vivo no rebuço, tem outro realce... Desaparecem e
deixam-nos cismáticos. Ao longe, no lajedo da rua ouve-se ainda o cloque-cloque
do calçado - e já o fantasma se esvaiu, deixando-nos uma impressão de mistério
e sonho.
É uma mulher esplêndida que vai para uma aventura de amor?
De quem são aqueles olhos que ferem lume?... Fitou-nos, sumiu-se, e ainda -
perdida para sempre a figura -, ainda o som chama por nós baixinho, muito ao
longe-cloque..."
Trata-se de uma capa que cobre inteiramente quem a usava. A
cabeça era oculta pelo próprio cabeção ou por um rebuço feito por qualquer
xaile, lenço ou mantilha. As mulheres embiocadas pareciam “ursos com cabeça de
elefante”
Oficialmente a sua extinção ocorreu em 1882 e por ordem de
Júlio Lourenço Pinto, então Governador Civil do Algarve, foi proibido nas ruas
e templos, embora continuasse a ser usado em Olhão até aos anos 30 do século XX
em que foram vistos os últimos biocos.
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